quinta-feira, 19 de novembro de 2009

#Rio Com Amor

Sinto saudades desta cidade. Sinto saudades do tempo que não tivemos para nos amar. Mesmo assim, senti-a maravilhosa. Mais maravilhosa do que diz o samba, mais nostálgica do que canta a bossa, mais ritmada do que passos ensaiados para desfile de carnaval. E sinto-a ainda agora, por tudo e por muito mais do que isso.
Guardo lembranças do que foi, do que não vivemos, do que poderíamos ainda ter vivido.
Fui carioca. Em alguns momentos, tenho certeza, eu fui realmente carioca. Vi o verdadeiro Rio. Senti-o. Não quis apenas o dos quinze dias, cuidadosamente montado para quem vem, gosta e vai, e que fica tão fácil amar como trocar pelo próximo destino de sonho.
Há mais Rio para ver. Há finais de tarde perdidos na rua, junto de pessoas apressadas no regresso a casa, entaladas em autocarros lotados, que lhes apertam a alma e os sonhos. Pessoas que, no embalo torpe de um autocarro velho, se afastam da orla, cingidas aos escassos centímetros de transporte público que, em breve, trocarão pelos igualmente asfixiantes das suas casas. E, para estes, sonhar com o dia em que, (im)provavelmente, morarão perto do mar, é tão irreal quanto cruel. Estão demasiado cansados para sonhos, exaustos de esperança. E, mesmo que por alguns minutos se permitam,  mesmo que o consigam por curto inertvalo de tempo, e o façam ao som de murmúrios e suspiros de outros que também já não ousam sonhar, a banda sonora real ou a cotovelada de quem tenta conquistar o seu espaço no "ônibus", trá-los de imediato à existência nada ideal.
Esta realidade também é Rio de Janeiro. E é igualmente tocante. Vivem naquela que é maravilhosa, na que tem praia e mar, mas que não podem pagar; possivelmente, nunca vão usufrui-la em pleno.
Mesmo assim, o Rio é exuberante; e quando nos afastamos da zona sul, descobrimos que não perde, jamais, o encanto. Há música a cada esquina, respira-se clima tropical que nos enrola numa nuvem de sonhos. A cada metro de calçada há sorrisos e expressões verbais a caírem nos ouvidos com timbre de pandeiro e bandolim. E há o dia de amanhã. E a vontade de acreditar que será melhor. E a minha certeza de que um dia será. Merecem-no.
Tenho saudades do Rio. Tenho saudades tuas. Tenho saudades do que não vivemos, quando, em tempos, essa foi também a minha casa.


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