segunda-feira, 16 de novembro de 2009

#Felicidade À Vez

Há uma inconfidência, tipicamente feminina, que me inquieta pelo modo orgulhoso como é pronunciada.
Ele faz-me uma mulher tão feliz!

Como é que alguém, na posse de todas as faculdades, é capaz de acreditar  que isto seja tradução de plenitude afectiva? Para mim assemelha-se a um favorzinho que o “dito cujo” lhe faz. Mas um favorzinho simpático, que se pratica com agrado, porque, enfim, não custa nada, não é? E ela até é fácil de contentar; então ele, que é bom rapaz, dá-lhe o jeitinho de a fazer feliz. Parece que no lugar de uma imposição do próprio sentimento, é uma capacidade que o homem tem e, como tal, pode querer fazer-lhe uso ou não. Se estiver para aí virado, muito bem, se não estiver, não há cá felicidades para ninguém! Ora essa!
Surpreendo-me, diversas vezes, empenhada em compreender a magia dessa afirmação e, perdoem-me se me restrinjo a um idealismo rigoroso, mas não consigo encontrar-lhe pingo de romantismo. A frase em si soa-me adequada ao final de um dia de trabalho - “Quando chego tarde, ele faz-me uma lasanha tão boa!” O que, admito, poderá ser encarado, até certo ponto, como positiva evolução dos tempos, uma vez que possui, no mínimo, um certo tradicionalismo invertido: antigamente, as donzelas, não deviam ter o dom das panelas? Não era assim que conquistavam o eventual marido, pelo estômago? Mantém-se então a mesma linha, embora, em tempos de emancipação feminina, fica ele nos tachos e ela no escritório até tarde.
Consequentemente, terá que ser feita uma rigorosa divisão de tarefas e afectos:
“-
Amor, este mês fiz-te muito feliz, no próximo és tu, ok?
-Oh querido, não calha nada bem com o meu trabalho... e se fosses tu novamente? Trocamos pela tua vez de aparar a relva
.”
Imagino que escolherem o mesmo mês para se fazerem felizes, possa condenar ao fracasso toda a produção emocional. Pois claro, há que gerir os recursos a fim de maximizar lucros! E, convenhamos, actividade de duas pessoas para o sucesso da mesma relação, seria um desperdício de mão de obra! No fundo, são tudo consequências da crise...
Meus queridos assalariados emocionais, e se no lugar de dividir competências, ousássemos partilhá-las? Não sei..., foi uma ideia que me ocorreu... talvez seja estratégia um tanto antiquada.
O melhor mesmo, é procurar uma empresa de gestão sentimental e pedir-lhe o parecer. Nos negócios do coração, é mais rentável orientação antes, do que depois da falência.

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