segunda-feira, 9 de novembro de 2009

#Fórmula Do In-Sucesso

Por vezes sinto-me completamente fora do meu tempo. Palavra de honra. Não sei se estou realmente fossilizada, ou se apenas parte do meu entendimento se tornou jurássico.  Sei-me uma pessoa rigorosa, talvez até "literal" demais, e tenho sempre à mão um dicionário - daqueles pesados e volumosos, nada de versões online, fáceis e rápidas de consultar. Não senhor. Se é para ser pré-histórica, há que o fazer com rigor e assumi-lo como um verdadeiro modo de vida.
Acontece que, sei também, operarem-se nas  palavras fenómenos evolutivos, alterando-se-lhes o significado, e isso leva-me a manusear com certa frequência os meus 2 quilos de léxico - não posso correr o risco de mumificar a cognição. Mas, ultimamente, há uma palavrinha que me anda a inquietar: ídolo.
Em tempos (na minha era arqueológica), ídolo era aquele que se salientava da multidão, justificado por actos de grandiosidade impossíveis à maioria. Lamentavelmente, penso que o meu manual de vocábulos, possa estar ultrapassado...
Hoje em dia, ídolo é o jovem ousado que se presta a castings humilhantes, numa tentativa de auto-destaque da maioria que, tal como ele, almeja ser fabricada prodígio. Ídolo, no conceito actual, parte do pressuposto de, provavelmente, não se possuir nenhuma capacidade acima da média, àparte inegável vontade de reconhecimento por talento que, em votação final, não pontua.
E, legitimados pela "concretização do sonho", desfilam ousados num decadente espectáculo de divulgação, o qual, no mundo dos comuns mortais resignados a perseverar sem virtude supranormal, constitui exposição sub-humana - apenas possível se dotados de artística habilidade alcoólica - e, cujo resultado, classificariam ao anonimato nacional.
Posto isto, talvez deva anexar ao meu compêndio semântico que, à luz do actual processo de idolatria, as características essenciais para se  constituir "ídolo" são: uma sublime incapacidade auto avaliativa e, consequentemente, uma portentosa aptidão para a humilhação pública.

Será que não há limites para estes sonhadores desvirtuados?

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