quinta-feira, 26 de novembro de 2009

#Expatriados

Há fenómenos muito curiosos. Eu não percebo, palavra de honra, a necessidade de alguns nacionais em ofuscar aquilo que também lhes pertence. No entanto, o que me ultrapassa completamente, é a vassalagem que o resto da população presta aos que nos ignoram, os quais, por diversas vezes, falam acerca do país em discurso condescendente, do género: “Pois, mas é verdade, nasci e cresci em Portugal, mas, tive a sorte desta oportunidade. De todo o modo, tenho muito carinho por aquele rectangulozinho”. Pois claro que tem, foi à custa dos papalvos do rectangulozinho que a “estrela” começou o seu percurso de ascenção. Ainda assim, mal se apanha em constelações internacionais, aí vai disto, “tem muito carinho”. Visitam-no até, de vez em quando, porque (e já ouvi coisas deste género): “Tenho muitas saudades dos costumes simples, do modo de vida humilde, ligeiramente rural, mesmo que nas cidades.” E os autóctones, os trogloditas da terrinha à beira mar plantada, quase vão às lágrimas, porque, imagine-se lá, um filho da terra, conta de onde vem e, pasme-se, fala do país que o fez com ternura!
É quase uma regra: quanto mais o astro se afastar da galáxia nacional, mais o povinho o eleva no firmamento. É um fenómeno formidável! Uma aurora boreal adulatória!
Vem o Cristiano Ronaldo e, ai que aflição, necessitamos desesperadamente da sua prestação meteórica na Selecção! Isto, realmente, é melhor ele não ser avaliado pela nossa medíocre medicina, porque, a bem da verdade, de vez em quando, o gaiato não só ostenta o escudo ao peito, como corre durante alguns minutos da partida, para depois trocar de chuteiras no banco, com grande plano sobre o logotipo da marca patrocinadora. Que menino de ouro - literalmente. Estendam-se os tapetes vermelhos e apele-se não só à ajuda dos céus, como às entidades espirituais paralelas! Tratando-se de tão distinta personalidade, não há lugar para clubismos nem guerras de claques, tampouco raças ou credos, há pacóvios unidos para o benefício dessa concreta personalidade superior.
E, por falar em credos, ocorre-me outro – o nosso mui nobre Prémio Nobel da Literatura! Aquele, cuja passagem pela atmosfera nacional, tem características de cometa – uma pequena fracção de tempo, de muitos em muitos anos - ou seja, praticamente não põe os digníssimos membros cá no burgo; a não ser, se para ver hordas de compatriotas de mãos erguidas, em genuflexão, implorar-lhe em nome da bondade divina, que não renuncie à nacionalidade. E o Senhor, profundamente sensibilizado com a subserviência nacional, reconsidera, ficando-se apenas por achincalhar a fé religiosa da maioria da populaça. Que é como quem diz: “Oh papalvos, só vocês que vivem no rectangulozinho e cujo entendimento se limita à linha do horizonte, são desprovidos de clarividência a ponto de não perceberem que, a Bíblia, é um autêntico buraco negro. Um vazio celestial!” Sorte a nossa, julgo eu, existirem pessoas destas, que habitam outros sistemas solares do conhecimento e, generosamente, nos iluminam o intelecto.
Sabe, Excelentíssimo Prémio Nobel da Literatura, confesso-lhe a minha infinita ignorância - a qual, percebo, de dimensão intergaláctica – porque, sempre pensei que os episódios da Bíblia, não eram mais que “metáforas”, as tais das comparações sem “como”. Mas, de prosa percebe o Senhor, eu sou apenas uma portuguesa ensinada nalguma fosca instituição de ensino da ilustre Pátria que nos é comum.

1 comentário:

A disse...

é o povo português. quando somos pobres somos subservientes, quando ficamos ricos começamos a ficar arrogantes.

deve ser um vírus... aposto que a gente o apanha no bacalhau.